Na claustrofóbica noite a lua eleva-se prateada.
As nuvens dançam ao seu redor, coroando-a, cintilando seu magnetismo e atormentando cada milímetro das minhas veias enegrecidas pelo tempo e seus males.
Poetas recitam versos românticos e apaixonados, compositores fazem canções enaltecendo sua beleza e graça, artistas pincelam sua nobreza e soberania. Por mim é condenada a reinar solitária, esquecida e atemporal, desprovida de luz, consumida por seu próprio reflexo.
A tempestade queima minha alma, reacendendo antigas memórias, e meu corpo inanimado envenena-se com paixões cruéis e violentas.
Você não está aqui, a única que poderia saciar minha sede, brindando-me com seu sangue turbulento, vivo, quente. Mas seus olhos vermelhos, com luxúria contida e uma discrição cínica que sempre ousaram manter, ignoram minhas súplicas. Como uma reza voluptuosa, quase sacrossanta, implorando por saciedade. Castigando justamente aquele que a presenteou com a eternidade e ímpios prazeres.